Qual é o diferencial da Psicanálise dentre as demais terapias?

A pluralidade de teorias e a complexidade do ser humano

Dentro da psicologia contemporânea e das práticas terapêuticas temos muitas teorias e autores, assim como linhas de pesquisa científica que são desenvolvidas em universidades e institutos, para tentar compreender melhor sobre as causas dos sintomas e sofrimentos psíquicos, transtornos e outras questões que nos afligem.

camadas da complexa mente humana

Cada uma delas considera o ser humano sob um aspecto diferente, ou seja, em cada uma existe uma forma de se compreender a causa de determinado sintoma ou condição de saúde mental – de acordo com o que foi construído e descoberto em seus experimentos e articulado em suas construções teóricas.

Como o ser humano é em si mesmo um fenômeno muito complexo, existem muitas variáveis, elementos e camadas diferentes que podem servir para se analisar seu funcionamento.

A noção de Bio-psico-social, alguns considerando ainda o Bio-psico-sócio-espiritual, é uma das mais comuns utilizadas para tentar contemplar as diversas faces existentes.

Ou seja, existem teorias que acabam por se debruçar um pouco mais nas questões Biológicas, outras focam mais nos aspectos Sociais, por exemplo. 

Não que seja possível deixar de lado algum ponto, sob o risco de se perder a totalidade da experiência humana, porém algumas acabam se aprofundando mais em um ou outro fator.

Diferentes focos: Neurociências, Comportamentais e Psicanálise

Nas neurociências, o objeto de estudo principal é o sistema nervoso, suas estruturas, elementos e funcionamento. Muitas vezes a leitura sobre o sofrimento, e os chamados transtornos, pode ser em cima de excesso ou falta de algum neurotransmissor, ou ainda, de fatores relacionados com certas estruturas cerebrais.

Nas linhas comportamentais, o foco é mais sobre como cada pessoa se comporta baseado em seu ambiente, ou seja, como os estímulos (ou gatilhos) recebidos causam determinadas reações que geram outras consequências que se retroalimentam, e assim por diante. O tratamento nessa linha gira em torno de auxiliar o paciente a compreender, mas principalmente, a modificar seu comportamento através de técnicas para que possa atingir seus objetivos.

O objeto de estudo da Psicanálise, por exemplo, pode ser considerado o Inconsciente.

Os sintomas guardariam uma espécie de verdade inconsciente que precisaria ser desvelada, de modo que é pela via da elaboração, pelas palavras, que poderíamos nos encontrar com ela.

Seu método de tratamento coincide com uma forma de investigação, onde se busca utilizar do conhecimento, ou melhor, do saber, como caminho para a cura.

Uma abordagem psicanalítica vai buscar fazer o caminho inverso de abordagens que costumam ser mais impositivas, onde existe um mestre detentor do conhecimento que vai trazer uma resposta, uma técnica.

A pessoa que vem para o consultório na verdade é o próprio responsável pela sua cura, pois o saber está do lado do paciente, não tanto do analista. Porém, é claro, o psicanalista terá um papel fundamental em sustentar um lugar para que esse saber sobre o inconsciente possa vir à tona.

É uma espécie de inversão de papéis, pois o psicanalista não vai dar uma receita pra se sentir melhor e ter um bem-estar maior em seu dia-a-dia.

Ao contrário, vai ser uma construção em conjunto que vai depender de tudo aquilo que for possível ou não elaborar sobre as causas dos sintomas, que vai estar ligada à história de vida daquela pessoa, desde a sua infância e até mesmo antes, com as histórias contadas pelos seus antepassados que acabam sendo transferidos de geração para geração.

A importância da técnica analítica

Isso não significa que o psicólogo vai ficar apenas ouvindo sem falar uma palavra, pois na verdade, por mais que existam aqueles que façam isso, isso é ineficaz para a condução correta do tratamento e do processo. Existem certas lógicas a serem decifradas, certas estruturas inconscientes, que precisam ser investigadas. Certas pontuações a serem feitas para permitir que o processo avance, e não se mantenha repetindo infinitamente a mesma coisa.

Não é apenas uma fala sem parar do paciente, ou uma fala sem sentido sobre o que aconteceu na semana, mas ela precisa ser direcionada para aquilo que realmente vai ser relevante para que se avance em tudo aquilo que está por detrás: sentimentos, pensamentos, desejos, conflitos, traumas, memórias… 

Nem todo mundo se adapta a uma abordagem mais analítica, por ela realmente querer levar o sujeito a conhecer profundamente sua história, sua relação com os outros, seu impacto no mundo, sua simbologia interna, sua própria “sombra”, assim como todas as suas potencialidades e “luzes” ocultas. Isso nem sempre é fácil, requer certa coragem e humildade de considerar que pouco sabe sobre si mesmo. 

Por isso é bom existir uma pluralidade de linhas, teorias e técnicas, pois para cada tipo de perfil existe uma maneira de se atender e auxiliar em seu sofrimento. 

Ainda que sempre indicaria dar uma chance para a Psicanálise, pois a sensação de poder elaborar questões que nos atravessam profundamente, e de nos encontrar com nosso próprio desejo, é muito gratificante (ainda que, por vezes, angustiante.